A Morte e o Amor
Somos todos imortais.
Teoricamente imortais, claro.
Hipocritamente imortais.
Porque nunca consideramos a morte como uma possibilidade cotidiana,
feito perder a hora no trabalho ou cortar-se fazendo a barba, por exemplo.
Na nossa cabeça,
a morte não acontece como pode acontecer de eu discar um número telefônico e,
ao invés de alguém atender,
dar sinal de ocupado.
A morte,
fantasticamente,
deveria ser precedida de certo ‘clima’,
certa ‘preparação’.
Certa ‘grandeza’.
Deve ser por isso que fico (ficamos todos, acho) tão abalado quando,
sem nenhuma preparação,
ela acontece de repente.
E então o espanto e o desamparo,
a incompreensão também,
invadem a suposta ordem inabalável do arrumado
(e por isso mesmo ‘eterno’)
cotidiano.
A morte de alguém conhecido e/ou amado estupra essa precária arrumação,
essa falsa eternidade.
A morte e o amor.
Porque o amor, como a morte,
também existe – e da mesma forma,
dissimulada.
Por trás, inaparente.
Mas tão poderoso que,
da mesma forma que a morte
– pois o amor também é uma espécie de morte
(a morte da solidão, a morte do ego trancado, indivisível, furiosa e egoisticamente incomunicável) –
nos desarma.
O acontecer do amor e da morte
desmascaram nossa patética fragilidade.
Caio Fernando de Abreu
Bom domingo, queridos. Beijão.
2 Opiniões:
Olá Ká!
Nada e ninguém melhor que Caio fernando de Abreu pra terminar (ou começar ;)) a noite. Domingão da um certo desânimo quando chega ao fim, é apenas o início da semana e ao olhar pra frente vemos trabalhos, negócios, multidões (detesto), barulho, buzina, loucos que se esbarram na gente, pressão, pressão e pressão... Nada que uma poesia pra enganar o cansaço que não sinto mas que só de pensar em como será a semana, já me desanima. Preciso de um refúgio!
Beijos
Bruno: Ele é o must mesmo. rs Pode vir quando quiser para se refugiar no meu cantinho. Todo domingo terá uma poesia nova para saborear. =) BeijãoO!
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